Dois dias a conceber, planear e finalizar a ilustração. Cerca de quatro a executar o mural. Por detrás desta obra da arte de rua, que agora se revela em Couto de Cima, está Ana Seixas, ilustradora viseense, que colocou neste trabalho algumas das marcas de uma pandemia que a todos atingiu. “De diferentes maneiras, afectou toda a gente. No meu caso, fez-me pensar com mais profundidade na sensação que é vivermos em comunidade e no papel que nos cabe dentro dela. Foi isso que procurei passar para fora”, confessa a autora.
O convite para a participação no festival de Street Art de Viseu, integrado no evento «Cubo Mágico» (um projecto multidisciplinar que traz à cidade jardim mais de 600 propostas de programação para todos os públicos até 21 de Setembro) partiu da Câmara Municipal. “Tive muito gosto em aceitar o desafio. Mais ainda, por poder levar uma obra de arte urbana à freguesia rural dos Coutos de Viseu, a uma residência sénior, instituição que acolhe provavelmente alguns daqueles que mais sofreram”.
“A minha ideia neste trabalho foi passar uma perspectiva positiva apesar do confinamento que nos atingiu e obrigou a tantos sacrifícios. A personagem criada representa a tentativa de sair à rua para adquirir o essencial. Mesmo que esse essencial fosse apenas um respiro ou uma sensação da normalidade. Uma saída apesar de tudo com cautelas, mas sem medos, a pensar em todos aqueles que tivemos e temos de cuidar”, explica Ana Seixas.
Natural de Ranhados, a ilustradora sente-se naturalmente em casa. “Nasci e cresci numa localidade que, apesar da proximidade ao tecido urbano, naquela altura tinha algumas marcas fortes de ruralidade. Por isso me sinto muito identificada com o facto de ter vindo a Couto de Cima trazer o resultado do meu trabalho. Espero que eventos semelhantes possam cada vez mais chegar aos meios rurais de todo o país”.
Ana Seixas tem formação em design pela Universidade de Aveiro. Trabalha como ilustradora. “Os murais são apenas uma pequena parte do que eu exploro dentro da ilustração. Tenho uma loja física no centro do Porto e também trabalho como freelancer”. A artista já executou um mural no Porto e outro em Leça da Palmeira. “Foram trabalhos em ambiente interior. No exterior esta experiência foi a primeira. Uma estreia na minha terra. Não podia ser melhor.
Em Viseu, Ana Seixas apresentou o ano passado, na Feira de São Mateus, um livro que realizou com o Oceanário. Na mesma linha de aproximação à sua cidade, já anteriormente tinha realizado um trabalho semelhante, neste caso sobre Viseu, em parceria com a editora «Pato Lógico». “Esta aproximação às minhas raízes é muito importante para mim”, conclui.
O Street Art 2020, que chegou a estar previsto para Maio, o que só não aconteceu devido à pandemia, deixou ficar na cidade e freguesias 11 novas intervenções. Participaram DRAW & CONTRA, MOSAIK, BORDALO II, SMILE, AHENEAH, Jorge Charrua e os artistas locais Ana Seixas, Nuno Rodrigues, Paulo Medeiros e a dupla Ergo Bandits.
RESIDÊNCIA SÉNIOR SERÁ REFERÊNCIA
O presidente da junta de freguesia Coutos de Viseu, Fernando Almeida, reconhece ter sido a primeira vez que a autarquia se candidatou no âmbito do Street Art. “Candidatamo-nos a um mural na residência sénior São Martinho, propriedade da Associação de Solidariedade Social Coutoense, e a uma peça escultórica em Masgalos. Conseguimos trazer o mural . Apreciamos imenso o trabalho realizado pela Ana Seixas, colorido e fresco, e com uma mensagem muito positiva para o futuro. Com a vantagem de ter sido concebida e executada por uma viseense, o que nos deixa muito orgulhosos”.
Fernando Almeida considera que, a partir de agora, o mural executado na freguesia passará a ser um ponto de referência para quem chega à localidade e também para sinalizar, de uma forma mais visível, a Residência Sénior de São Martinho.