Futuros arquitectos recuperam aldeia de Covas do Monte

Junho 6, 2013 | Região

É a primeira vez que tantas vontades se congregam em torno de um projecto que promete, com o concurso directo de futuros arquitectos, portugueses e estrangeiros, reabilitar em apenas dez dias alguns equipamentos colectivos e habitações na aldeia de Covas do Monte, freguesia de Covas do Rio, no concelho de S. Pedro do Sul. A Universidade Católica de Viseu, que aglutinou um conjunto vasto de parceiros em torno do projecto «Terra Amada», acredita que a intervenção, a realizar em regime de total voluntariado, contribua para humanizar uma das aldeias serranas mais emblemáticas daquele concelho.

Durante dez dias, entre 26 de Julho e 4 de Agosto, cerca de meia centena de estudantes de arquitectura e arquitectos estagiários, nacionais e estrangeiros, sob a direcção de mestres de obra e técnicos experientes do sector, também estes voluntários, e com materiais doados pelas empresas associadas, vão intervir na recuperação de três equipamentos comunitários (azenha, moinho, e escola primária a servir de sede à Associação dos Amigos de Covas do Monte), uma habitação, um anexo, um curral, um espigueiro, e dois espaços públicos. Os projectos e a logística são assegurados pelos professores e oito alunos dos 4.º e 5.º anos do Curso de Arquitectura da Universidade Católica de Viseu.

Quatro parceiros (Câmara de S. Pedro do Sul, Diocese de Viseu, Junta de Freguesia de Covas do Rio, e Gecorpa, uma associação de empresas a profissionais que se dedicam à requalificação do património edificado) e dezenas de empresas associaram-se ao projecto “Terra Amada”. Ana Pinho, arquitecta e docente da Universidade Católica, não tem memória de uma acção de mecenato tão grandiosa, em torno de uma intervenção que classifica mesmo de “pioneira e inédita” a nível nacional.

Na óptica dos voluntários que durante dez dias vão arregaçar as mangas e meter mãos à obra em Covas do Monte, a recompensa está garantida. Além de contactarem com “temáticas relacionadas com o desenvolvimento dos territórios rurais”, e de serem sensibilizados “para a importância da coesão social e territorial”, ser-lhes-á dada a oportunidade de contactarem directamente “com os processos, técnicas e materiais de construção tradicionais”. Uma forma, referiu Ana Pinho, em conferência de imprensa, de contribuírem também “de forma concreta e visível para a melhoria da qualidade de vida das comunidades com as quais vão habitar e trabalhar durante o tempo da execução.

Se para os futuros arquitectos a participação na iniciativa «Terra Amada» – uma acção piloto de voluntariado que poderá repetir-se noutras aldeias – é da maior importância, não o é menos para Covas do Monte. Uma terra, com bem lembra o vice-presidente da Câmara de S. Pedro do Sul, Adriano Azevedo, onde meia centena de habitantes, continua a acreditar que é possível viver com qualidade numa aldeia rural do concelho. “Abraçámos este projecto desde a primeira hora. Percebemos que era de extrema importância para a aldeia, para o concelho e até para o país. A escolha da Universidade Católica para materializar esta intervenção foi assertiva. E este é um bom exemplo do que se deve fazer em relação ao aproveitamento dos próximos fundos comunitários”, reconhece o autarca.

A partir de 26 de Julho, nada será como dantes em Covas do Monte. A aldeia, localizada em local recôndito de um dos vales profundos da Serra de S. Macário, assistirá a uma enchente de pessoas, num total de setenta, que mais do que duplicará a população residente. A intervenção piloto a desenvolver no âmbito do projecto “Terra Amada” não pretende alterar o espaço construído na aldeia, resultado do modo de vida que nele se reflecte, mas contribuir para travar “o sofrível estado de conservação de muitas das construções” quais “ameaças visíveis à sua continuidade para as gerações futuras”.

A intervenção nos equipamentos seleccionados é variada, indo desde a conservação e restauro estritos, até à reabilitação profunda, aliando técnicas e materiais tradicionais à introdução de materiais e padrões de desempenho contemporâneos. Dois exemplos. No moinho, o único em funcionamento, os futuros arquitectos e mestres de obra cingirão a sua acção a trabalhos de limpeza, conservação e restauro. Já na designada “Casa da D. Irene”, designação dada à casa onde vive apenas a proprietária, já de idade avançada, a intervenção será profunda. Irá desde a melhoria global da habitação, até à melhoria térmica, instalação sanitária, saneamento de água corrente no interior e melhoria da acessibilidade. No fundo, humanizar o espaço para dar melhor qualidade de vida a quem nele vive.

 


 

 

 

 

 

 

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