A decisão de se candidatar à presidência da CMV foi influenciada, de alguma maneira, pela impossibilidade de Fernando Ruas se recandidatar ao cargo?
Não! Já em 2001, fui candidato à Câmara de Viseu e Fernando Ruas era também candidato. Sou candidato por convite dos partidos que integram a CDU [o PCP e Os Verdes] e porque integro uma candidatura com vontade de contribuir para o desenvolvimento do concelho de Viseu.
Qual a sua prioridade para o concelho, caso venha a ser eleito presidente da Câmara Municipal de Viseu?
A prioridade da CDU, a prioridade dos candidatos da CDU à Câmara, à Assembleia Municipal e às diversas freguesias, é a de concretizar uma visão estratégica que abra caminho ao desenvolvimento do concelho nas suas zonas rurais e urbana. Para além de um conjunto de obras necessárias em todo o concelho é necessário contribuir para o desenvolvimento da nossa terra por forma a acabar com o desemprego crescente e melhorar a vida dos viseenses. Quando dizemos visão estratégica, falamos da recuperação do centro histórico e da sua candidatura a património da humanidade com toda a importância que esse processo terá no emprego, quer no domínio da construção civil, quer no comércio tradicional. Uma visão estratégica que tenha também presente a necessidade de concretizar um plano de desenvolvimento turístico em conjunto com concelhos vizinhos. Aqui merece destaque a urgência de um parque de campismo, o aproveitamento do espaço natural de Vale de Cavalos e da Cava de Viriato, a organização de uma Rota dos Escritores, o desenvolvimento da atividade cultural (como está sobejamente demostrado, a cultura é também fonte de riqueza). Neste domínio assume também particular importância a criação da Casa das Artes – espaço de criação e fruição artistica [o edifício e terreno da Estradas de Portugal que se encontra à venda na Calçada de S. Mateus, confluência da Rua Serpa Pinto com a Rua Emídio Navarro é uma boa solução]. O desenvolvimento do concelho exige que a autarquia assuma um papel determinante na luta contra as portagens, pela ligação ferroviária à rede nacional e europeia, pela ligação em autoestrada sem portagens a Coimbra, pela concretização do IC 37 (Viseu – Nelas – Serra da Estrela) e pela ligação em formato IC a nascente de Viseu, via Sátão. De igual forma, assume uma importância vital o combate pela Universidade Pública de Viseu, sobretudo quando a atual maioria pretende transformar os institutos politécnicos em ensino superior de terceira categoria – cada euro investido no ensino superior na nossa região gera cinco euros de riqueza. A autarquia deve prestar especial atenção à promoção da nossa gastronomia e dos nossos excelentes vinhos. O desenvolvimento do concelho, no plano agropecuário exige rapidamente um matadouro. É igualmente óbvia a necessidade de desenvolver políticas que atraiam investimento no plano industrial, que, pelo menos, ocupem os espaços onde foram investidos muitos milhões de euros – veja-se o caso do “novo” parque industrial de Mundão que “está às moscas” e que foi anunciado como local destinado a empresas de tecnologias de ponta. É igualmente vital que o concelho seja dotado de verdadeiros transportes públicos com horários e percursos que sirvam as populações das zonas rurais, das áreas suburbanas e da cidade.
Em resumo, precisamos de muito mais do que um conjunto de obras. Precisamos de uma autarquia que aposte numa visão integrada de desenvolvimento do concelho e que trabalhe para isso. Que contribua para acabar com a chaga do desemprego e melhore os rendimentos das famílias. Estamos convencidos que é possível. Nos órgãos autárquicos essa será a nossa prioridade.
Se perder as eleições, aceita integrar o executivo como vereador?
Sim. Os candidatos da CDU aos órgãos autárquicos do concelho de Viseu assumirão todos os cargos que os viseenses entenderem atribuir-lhe com o seu voto, em maioria ou em minoria, na Câmara, na Assembleia Municipal e nas Juntas de Freguesia. Nós defendemos órgãos colegiais eleitos como tal e assim os integraremos.
Que apreciação faz do legado de 24 anos dos executivos liderados por Fernando Ruas?
Realizaram-se algumas obras. Era o que faltava que assim não fosse. Mas, do nosso ponto de vista, faltou essa orientação estratégica apostada no desenvolvimento de todo o nosso concelho. Mas, mesmo no plano das obras municipais, estes 24 anos ficaram aquém do que era normal esperar-se – registe-se, por exemplo, a situação degradante da ETAR da Póvoa da Medronhosa e do Rio Pavia a jusante da cidade, a falta de água e saneamento num número considerável de zonas, a imperdoável falta de conservação e limpeza de caminhos nas zonas rurais ou a degradação da Central de Camionagem – apenas para referir alguns exemplos.
Qual a estratégia global da sua candidatura para desenvolver o concelho de Viseu nos próximos quatro anos?
Boa parte da resposta está na segunda questão desta entrevista. A questão central e estratégica para a CDU é a necessidade de as autarquias do concelho de Viseu se constituírem como impulsionadoras do desenvolvimento. Esta é a única forma de acabar com o desemprego e melhorar os rendimentos das pessoas e das famílias. Criar ou prometer criar gabinetes de apoio às famílias endividadas e com dificuldades pode ajudar um mês ou dois mas, não resolve os problemas centrais – a necessidade de emprego para todos e a elevação significativa dos rendimentos das pessoas.