O ministro das Finanças acaba de reconhecer que a recessão este ano será o dobro da que tinha previsto. Gaspar não acerta uma… Agora, até já pede à Comissão Europeia mais uma ano para corrigir o défice, quando há bem pouco tempo jurava que Portugal não precisaria nem mais tempo, nem mais dinheiro.
Mais uma vez os números do INE sobre o desemprego deitam por terra a política do governo PSD/CDS: 16,9%, ou seja, quase um milhão de desempregados. No entanto, se aos inscritos nos centros de emprego somarmos todos/as que já desistiram de se inscrever, o número real de inactivos sobe para 25,7%, ou seja, 1.475.000 mil. E Passos Coelho ainda admite que o pior está para vir.
A espiral recessiva aí está à vista de toda a gente apesar de Passos continuar em fase de negação. As falências sucedem-se com 24 empresas a fechar em cada dia útil, fazendo aumentar o caudal de desempregados. As exportações regrediram no último trimestre de 2012. O governo já começou a ameaçar os portugueses com a permanência dos cortes previstos: mais 3 mil milhões em 2015, a somar aos 4 mil milhões até 2014.
Depois de reunir com empresas e sindicatos, o Bloco de Esquerda levou a efeito um Fórum de micro, pequenas e médias empresas, onde apresentou medidas para fazer face às principais dificuldades apresentadas pelos empresários: uma taxa travão para o crédito a conceder às empresas, de forma a que o financiamento nunca possa ser superior em 20% à taxa de juro praticada no resto da Zona Euro (as pequenas e média empresas gregas conseguem financiarem-se na banca em melhores condições do que as empresas congéneres portuguesas, que representam 75% do emprego); que,pelo menos, 50% dos fundos públicos aplicados na recapitalização dos bancos sejam canalizados para o financiamento de empresas não financeiras, com uma taxa de juro que não ultrapasse a média da Zona Euro; que a Caixa Geral de Depósitos possa usar o remanescente dos fundos de recapitalização dos bancos, mais de seis mil milhões de euros, para financiar empresas não financeiras; baixar o IVA da energia (luz e gás) para a taxa mínima de 6% e que a taxa do IVA da restauração regresse aos 13%. Por fim, o BE propõe ainda o aumento do salário mínimo nacional para que a subida do rendimento das pessoas que menos ganham possa dinamizar o mercado interno.
Claro que antes de mais impõe-se renegociar a dívida, já que nem o encaixe com as privatizações é suficiente sequer para pagar os juros. Temos que escolher entre pagar juros agiotas ou garantir o Estado Soc ial, o Serviço Nacional de Saúde, a Escola Pública e as pensões.
A carta que António José Seguro enviou à Troika exigindo uma avaliação política e não só técnica do cumprimento do memorando que o PS também assinou, esquece que tanto o FMI como a Comissão Europeia têm, efectivamente, um objectivo político a norteá-los: empobrecer os portugueses, os gregos, os espanhóis, os italianos e os irlandeses, de forma a que a sua força de trabalho seja mais competitiva com os baixos salários na China, onde a maior parte da indústria norte-americana e europeia instalou as suas fábricas.
É contra essa nova escravatura que os povos do Sul da Europa têm de se levantar. Para isso não basta dizer à Troika que os portugueses n oão aguentam mais austeridade. É preciso exigir a renogociação da dívida, de modo a reduzir o seu valor e a baixa das taxas de juro, ao mesmo tempo que repudiamos as imposições políticas do memorando e o ataque ao Estado Social.
A carta à Troika de Seguro não passará de mais uma das suas incoerências e inconsequências se vingar no PS a opinião formulada pelo porta-voz do partido, João Ribeiro, que em artigo publicado no jornal i, diz ser necessário não persistir “exclusivamente na defesa dos sectores mais tradicionais do Estado Social”
Mais seguro, para os portugueses, é continuar a lutar na defesa do direito ao trabalho, dos serviços públicos, e pela demissão do governo, como aconteceu no passado sábado dia 16, na manifestação convocada pela CGTP, que em Viseu congregou larga centenas de pessoas, no Rossio e na Rua Formosa, onde alguns cravos vermelhos brotaram por entre os cartazes e as faixas com recados ao governo e à Troika.
Importa fazer crescer este caudal de contestação até ao próximo 2 de Março, dia da Manifestação convocada pelo movimento “Que se Lixe a Troika – O povo é quem mais ordena!” que já tem assegurada a participação de 25 cidades, incluindo Viseu, e conta também com a adesão de movimentos como a Maré Branca pela Saúde, composto por profissionais de saúde em defesa do SNS, a “Maré pela Educação”, de profissionais da Educação e estudantes em defesa da Escola Pública, da melhoria das condições de ensino e aprendizagem e contra as propinas e também da APRe! , associação de reformados que está a preparar uma batalha judicial contra os cortes nas reformas.
Que “Grândola Vila Morena”, ecoe por todo o país, num coro afinado pela demissão do governo de Passos, Portas e Relvas. O POVO É QUEM MAIS ORDENA.