O escândalo rebentou denunciado por José Junqueiro e Hélder Amaral: Fernando Ruas andou a distribuir cheques à porta das igrejas do Viso e de S. João de Lourosa, tendo discursado até durante a missa. O Jornal de Negócios da passada terça-feira foi ouvir testemunhas e concluiu que houve exagero nos relatos. Ruas, afinal, não falou dentro da Igreja do Viso, mas sim no Adro, durante 20 minutos, agradecendo ao povo devoto “o apoio nos últimos 24 anos”, prometendo regressar daqui a quatro. O discurso atrasou a missa, obrigando o padre a encurtar a homilia, diz o jornal, mas, na verdade, a culpa só pode ter sido do povo, já que, no Domingo anterior, o padre em funções tinha pedido aos paroquianos para irem “15 a 20 minutos mais cedo” para assistirem à assinatura do protocolo. Pelos vistos, a maioria não foi, se não como é que a missa se atrasava?
Fernando Ruas, ouvido pelo jornal, confirmou ter entregue um cheque de 50 mil euros. Mas o padre terá até confessado a sua frustração por ter recebido apenas um total de 100 mil euros, quando tinham prometido ao seu antecessor uma ajuda camarária de 250 mil euros para as obras de construção da nova Igreja.
Menos ingrato parece ter sido o padre de São João de Lourosa que chamou um figo ao cheque de sete mil euros que recebeu das mãos de Ruas, antes da missa, no adro da igreja. Ruas disse ao jornal Público que até foi o padre a escolher o local. E acrescentou que sempre fez aquilo e que continuará a entregar mais subsídios “graças à gestão financeira equilibrada” que fez durante todos estes anos à frente da autarquia”.
É pois muito justa a nota negativa que o jornal Público deu a Fernando Ruas pela “campanha descarada” nos adros das igrejas, exigindo-se mais decoro e melhores exemplos ao presidente da Associação Nacional de Municípios Portugueses. Na Madeira é normal os comícios à porta das igrejas, mas em Viseu já bastaram 24 anos de Alberto João das Beiras.
O que nem os jornalistas, nem o PS, nem o CDS questionam é porque razão há-de a autarquia pagar 250 mil euros, ou 100 mil euros que sejam, para ajudar a construir uma igreja. Não me importo que o dinheiro dos meus impostos e taxas municipais (incluindo a taxa máxima do IMI que ajudou Ruas a “equilibrar as finanças” do município) vá para instituições de solidariedade social ou para associações ligadas a qualquer igreja que cumpram uma função social relevante, que não seja a simples caridadezinha (caridade com o dinheiro dos outros não parece lá muito católico, ou será?), mas ajudar a construir uma igreja é outra coisa. O Vaticano não precisa das esmolas de um Estado laico sustentado por uma população com três milhões de pobres. O Vaticano (IOR) segundo a pesquisa de uma rede de organizações sociais francesas, baseada em dados de autoridades alemãs e suíças, ocupa o 8º lugar na lista dos Estados que mais lavam dinheiro sujo, proveniente de lucros ilícitos, tráfico de armas, exploração da prostituição ou droga. O escândalo mais recente do Banco do Vaticano (IOR) que gere o imenso património da Santa Sé, foi a prisão do monsenhor Nunzio Scarano, ex-chefe de contabilidade do IOR , acusado de corrupção e fraude financeira pela polícia italiana.
PS PRESTA HOMENAGEM A CÓNEGO LIGADO AO TERRORISMO DE EXTREMA DIREITA
A promiscuidade entre os partidos do chamado “arco do poder” (expressão que se presta a trocadilhos brejeiros) e a Igreja católica volta à evidência com a provocação a todos os democratas e anti-fascistas que constitui a aprovação pela Câmara Municipal de Braga, apenas com os votos do PS (até a coligação PSD/CDS se absteve), da colocação de uma estátua ao cónego Melo, um assumido apoiante da rede terrorista (ELP e MDLP) que no Verão quente de 75 incendiou e destruiu sedes de partidos de esquerda e organizou atentados bombistas que ceifaram a vida a alguns democratas e anti-fascistas, como o padre Maximino de Sousa (que aceitara ser candidato independente pela UDP) e a jovem Maria de Lurdes que colaborava com ele nas aulas de alfabetização de adultos e o acompanhava no carro armadilhado com uma bomba.
Mesquita Machado, presidente da Câmara de Braga, assumira o compromisso, na Assembleia Municipal, de nunca deixar erigir no espaço público uma estátua ao homem que chamou de “traidor à Pátria” um histórico militante do PS por ter responsabilidades no processo da descolonização. Durante mais de uma década a estátua repousou num armazém em Gaia. Agora, Machado e o seu vice, actual candidato do PS à Câmara de Braga, arriscam afrontar os sentimentos democráticos dos bracarenses (que já se manifestaram na rua) só para conquistar votos da direita e da extrema direita. ~
O PS de Braga já conseguiu a simpatia do partido de extrema-direita PNR que se prontificou a limpar a tinta azul que alguns bracarenses mais indignados atiraram contra a estátua. Cada um faz as suas escolhas. Eu já há muitos anos que escolhi guiar-me pelo lema do Padre Max: “Servir o Povo e nunca se servir dele”
Carlos Vieira e Castro