Desinvestimento nos Bombeiros Municipais de Viseu prejudicou o combate aos fogos florestais

Setembro 13, 2012 | Opinião

Dizem os bombeiros mais antigos que foi o maior incêndio florestal dos últimos 30 anos. Seis freguesias do concelho de Viseu viram as suas florestas transformadas em cinzas.

A associação ambientalista Quercus defendeu, em comunicado, a necessidade de se criar “uma estratégia de longo prazo com melhores políticas agro-florestais”, travando a plantação de eucaliptos nas áreas ardidas durante uma década a partir da data dos incêndios.  Também o Partido Ecologista “Os Verdes” criticou a plantação de eucaliptos, relacionando-a com os fogos.

Quem também tomou posição sobre os fogos florestais foi a Comissão Concelhia de Viseu do Bloco de Esquerda que para além de além de acusar a ministra Crista de “lançar gasolina no fogo” com a liberalização da plantação de eucalipto, denunciou que os incêndios apanharam o município desfalcado de meios humanos e materiais: “É sabido que os fogos grandes começam por ser pequenos e para impedir o seu alastramento o fundamental é, para além do trabalho prévio de prevenção (abertura de aceiros, pontos de água, limpeza das matas, vigilância), a rapidez e a eficácia do ataque inicial. Para isso era essencial os bombeiros municipais estarem munidos de suficientes meios humanos e materiais. (…)  O presidente da Junta de Côta testemunhou que o incêndio nunca tinha tomado tais proporções se fosse atacado na fase em que estava em Couto de Cepões e que só quando chegou o comandante dos bombeiros municipais de Viseu é que conseguiu ajudar a encaminhar os soldados da paz para os melhores caminhos de acesso ao fogo, uma vez que as corporações de fora do concelho, por falta de reconhecimento do terreno, nem  sempre encaminhavam os meios para os locais certos”.

De acordo com a Lusa, Fernando Ruas adiantou também que a ANMP quer marcar uma reunião com o ministro da Administração Interna, Miguel Macedo para “ perceber se podemos fazer mais e melhor para racionalizar os meios, quer humanos, quer materiais”..  No entanto, acusa o comunicado do BE, “quando em 29 de Junho deste ano, o Bloco de Esquerda apresentou na Assembleia Municipal de Viseu uma Moção pelo Reforço dos Meios Materiais e Humanos dos Bombeiros Municipais de Viseu, considerando as lacunas e insuficiências (sobretudo o reduzido número de bombeiros  profissionais , 39, quando para uma população como a do nosso concelho o rácio recomendado seria de 100),   denunciadas publicamente pelos bombeiros e pelo próprio comandante, a maioria do PSD votou contra a recomendação. Fernando Ruas disse na AM que por ele Viseu nunca teria bombeiros municipais (corporação que celebrar este ano  o 185º aniversário), mas apenas voluntários; talvez porque ainda não pagou aos bombeiros municipais as horas extraordinárias dos fogos do Verão passado.

Muitos dos presidentes de junta que agora se confrontaram com a tragédia dos fogos florestais que destruíram matas e puseram em risco vidas humanas,   na altura votaram contra ou se abstiveram de forma negligente e irresponsável.

“Aliás, muitos populares têm acusado os proprietários de pinhais e os presidentes de Junta de não limparem os terrenos de que são proprietários. Por exemplo, a estrada do aeródromo, na freguesia do Campo há seis anos que não é limpa, apesar de queixas dos próprios Serviços de Metereologia, cujo edifício  já  nem se vê da estrada, tal é a altura das silvas. As mimosas invadem a faixa de rodagem, o que já provocou acidentes rodoviários.

As lacunas de meios humanos tornam completamente desactualizado, não aplicado à realidade e na prática não existente  o PLANO MUNICIPAL DE EMERGÊNCIA, obrigatório por lei, o que equivale à demissão de funções  do responsável máximo pela Protecção Civil Municipal,  o Presidente da Câmara Municipal de Viseu” .

O abandono da Agricultura e o desinvestimento na floresta,  bem como interioricídio levado a cabo  com o encerramento de escolas, postos de Saúde, correios,  tribunais e outros serviços públicos, fruto de uma estratégia errada de desenvolvimento seguida pelos sucessivos governos, não desculpa a falta de ordenamento e limpeza das florestas, por parte do Estado (governo e autarquias), nem a ausência de medidas eficazes para incentivar e obrigar os proprietários particulares a limpar as suas matas. Os proprietários florestais mais conscientes esbarram com a burocracia para aderirem aos programas, já por si com apoios pouco incentivadores,  para o investimento  florestal, que inclui as limpezas das florestas.

Verifica-se ainda que os fundos comunitários para a Defesa da Floresta Contra Incêndios são consumidos maioritariamente no combate ao fogo,  em detrimento da prevenção, o que seria mais eficaz e duradouro.

Carlos Vieira e Castro

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