O jornal Público do passado dia 11 de Agosto publicou uma reportagem sobre o desmantelamento de acampamentos de comunidades ciganas nas cidades francesas de Paris, Lyon e Lille. O governo francês diz tratar-se de “retorno voluntário”, mas o director executivo do European Roma Rights Center, organização que combate a discriminação dos ciganos na Europa, contesta o pagamento de 300 euros a cada adulto e 150 a cada criança que saia do país, como um desperdício de dinheiros públicos, uma vez que sendo cidadãos da União Europeia, podem regressar quando quiserem. E acusa Hollande de utilizar “a mesma abordagem de Sarkosy, com uma linguagem diferente”.
A Liga dos Direitos recordou que François Hollande escreveu aos grupos defensores dos direitos humanos, antes das eleições, garantindo que se fosse eleito presidente nunca desmantelaria um acampamento sem oferecer alternativas de alojamento a quem lá vivesse. A alguns foi, de facto, oferecido alojamento nos subúrbios das grandes cidades, mas recusaram porque as famílias ficavam separadas. Quem conhece a cultura cigana sabe que a família é o principal esteio destas comunidades.
Em 2010, Sarkosy expulsou milhares de ciganos romenos e búlgaros, o que levou mais de 30 mil pessoas a manifestações de protesto em 130 cidades de França e mais seis países, incluindo Portugal (em Lisboa e no Porto). Na ocasião, a Comissária Europeia de Justiça, Viviane Reding, abriu um procedimento judicial contra o governo francês por violação da legislação europeia e comparou as expulsões de ciganos às deportações dos judeus pelos nazis. O Parlamento Europeu aprovou uma resolução para que o governo francês “suspenda imediatamente todas as expulsões de ciganos”.Também a ONU condenou as expulsões e apelou ao governo de Sarkosy para “evitar os repatriamentos colectivos”.
Note-se que os ciganos oriundos da Roménia e da Bulgária sofrem perseguições e discriminações nos seus próprios países.
No passado dia 2 de Agosto, pelas 14h 30m, funcionários da Câmara Municipal de Viseu, acompanhados por dois agentes da polícia municipal, carregaram colchões e outros pertences de uma família de ciganos romenos que dormiam debaixo de uma ponte do rio Pavia. A nossa associação já tinha estabelecido contactos com dois dos menores para tentar comprovar a sua situação escolar, mas a atitude da autarquia além de não ajudar aquelas pessoas, pelo contrário, ao escorraçá-las ainda as privou de qualquer apoio que eventualmente lhes conseguíssemos prestar.
Já não é a primeira vez que ciganos nómadas são banidos da nossa cidade, conforme a OLHO VIVO tem denunciado. Há poucos anos, funcionários municipais chegaram a carregar, numa camioneta da câmara, cestos e mobiliário em vime feitos artesanalmente por ciganos nómadas de nacionalidade portuguesa, que vendiam o fruto do seu trabalho junto ao hipermercado Continente. Um roubo e uma atitude inqualificável por parte de uma autarquia que diz construir uma cidade inclusiva.