Finalmente o PSD anunciou o seu candidato à Câmara Municipal de Viseu. António Almeida Henriques, ainda secretário de Estado Adjunto da Economia e presidente da Assembleia Municipal de Viseu, foi eleito por unanimidade para cabeça de lista do PSD, mas o anunciado consenso não disfarça a feroz luta intestina nos hostes laranjas, que foi adiando a escolha até ao limite.
A causa de tamanha indecisão, segundo fontes do PSD, esteve na preferência de Fernando Ruas pelo vice-presidente da Câmara de Viseu, Américo Nunes. Este, no entanto, nunca disse ser candidato, e só depois do anúncio de Almeida Henriques é que declarou publicamente que tinha recebido muitos incentivos para se candidatar, mas que sempre dissera não, por querer dedicar-se à família e por considerar injusto que o presidente não possa recandidatar-se, mas os vereadores que, como ele, também já estão em funções há quatro mandatos possam continuar. Contudo, é voz corrente em Viseu que o nome do vice-presidente levantava objecções por parte de muitos militantes e até de figuras destacadas do PSD de Viseu, que também não viam com bom olhos a anunciada intenção de Fernando Ruas regressar à autarquia passados quatro anos de “exílio forçado”. De resto, o nome de Américo Nunes nem sequer constava do inquérito feito por uma empresa de sondagens, por telefone, a cidadãos de Viseu, que muitos entenderam ser uma encomenda do PSD dado que foram adiantadas duas hipóteses de candidatos do PSD para a Câmara de Viseu, Almeida Henriques e José Cesário. Dois secretários de Estado.
Almeida Henriques começou a ser dado como candidato quando o seu nome surgiu como um dos secretários de Estado a remodelar. O anúncio da candidatura de José Junqueiro à Câmara de Viseu parecia tornar óbvio a necessidade de escolher um nome com igual peso. Um secretário de Estado contra um ex-secretário de Estado. Mas a remodelação não atingiu Almeida Henriques. Este, segundo declarações a um jornal teria dito que já tinha estado disponível, dando a entender que já não estava. Era notório uma certa desilusão ou ressabiamento. Curiosamente o mesmo se passou com Junqueiro que em entrevista ao Jornal do Centro disse também que sempre tinha estado disponível, lamentando que a líder da concelhia de Viseu, Lúcia Silva, tenha convidado meio mundo e só depois de ter recebido negas de todos os lados se tenham lembrado de um candidato tão natural.
Acontece que também entre os militantes do PS em Viseu, Junqueiro surge como o candidato inevitável, na falta de melhor, mas há quem não lhe perdoe só se ter chegado à frente agora que Ruas não pode ir a jogo, após ter perdido um primeiro “round” e ter deitado imediatamente a toalha ao chão. Também na ala mais à esquerda (ou mais bem dito, menos à direita) do PS Viseu há quem não esqueça as tomadas de posição à direita de Junqueiro, como em 1997, quando alinhou com todos os deputados eleitos por Viseu, com a honrosa excepção de Mário Videira Lopes, inviabilizando a aprovação do projecto-lei da Juventude Socialista para a despenalização da Interrupção Voluntária da Gravidez.
Falta agora ver quem são os candidatos dos outros partidos para as autarquias de Viseu. O CDS , também em convulsões internas, com várias demissões da concelhia e da distrital o que levou Helder Amaral a fazer um “by pass” aos órgãos estatutários e nomear uma comissão eleitoral com alguns dos demissionários, e o Bloco de Esquerda que já por duas vezes conseguiu eleger um(a) deputado(a) para a Assembleia Municipal de Viseu. Também não podemos esquecer o PCP que ainda recentemente fez deslocar a Viseu o seu secretário-geral.
É fundamental que a campanha eleitoral não se restrinja ao circo mediático entre os dois partidos do “Bloco Central”, para que tudo não fique “numa canção em dois tons”, como diria o Sérgio Godinho, cantada por cantores de voz gasta, já em fim de carreira.
Carlos Vieira e Castro