Após um exaustivo estudo, incluído num projeto financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (PTDC/CVT/113218/2009), para avaliar o papel da população de cães como reservatório animal para “norovirus” no homem, um docente da Escola Superior Agrária de Viseu, João Mesquita, em estreita colaboração com a Universidade do Porto e o Centers for Disease Control and Prevention, nos Estados Unidos, descreve pela primeira vez a existência de um “norovirus” canino (“estirpe Viseu”, dado o local da sua descoberta).
Os “norovirus” humanos são hoje reconhecidos como a mais frequente causa de gastroenterite aguda por surtos alimentares e a causa mais comum de doença entérica esporádica, superando qualquer agente bacteriano. A mais importante via de transmissão de “norovirus” é o contacto pessoa-a-pessoa e o consumo de alimentos contaminados, no entanto a transmissão de animais para o homem foi igualmente sugerida.
Até muito recentemente nada se sabia sobre a existência destes vírus em cães, os quais representam um elevado risco de transferência zoonótica dado o seu contacto próximo com os humanos em muitas sociedades de todo o mundo.
O genoma parcial do vírus foi oficialmente registado no GenBank, com a designação “norovirus dog/C33/Viseu/2007/PRT”. O docente veio também a concluir que o vírus tem uma elevada variabilidade genética e antigénica graças à sua elevada taxa de mutação, o que é sugestivo de uma elevada adaptabilidade do vírus ao hospedeiro.
Este projeto, que envolveu a análise de amostras biológicas de 15 países da Europa e dos Estados Unidos, demonstrou que o novo vírus está a ser excretado por todo o país e a ser transportado entre países da Europa, através da movimentação dos animais entre fronteiras. Através de análises imunoenzimáticas em soros humanos, demonstrou-se ainda que a população humana teve contacto prévio com este vírus, sugerindo a possibilidade de ocorrer a transmissão ao homem.
A equipa do Laboratório de Anatomia Patológica Veterinária da Escola Superior Agrária de Viseu estuda neste momento as alterações histológicas entéricas em cães infetados, recorrendo a técnicas avançadas de deteção de apoptose e caracterização das lesões celulares microscópicas.