Mélanie personifica os mais de três centenas de jovens, na sua grande maioria alunos dos ensinos secundário e superior, que trocaram as férias escolares por um trabalho temporário na Feira de S. Mateus. Objectivo: ganhar algum dinheiro extra para ajudar os pais a suportarem as despesas com os estudos no ano lectivo que se aproxima. Aliás, quando acabar as feira, já as mochilas e pastas estarão prontas para o regresso às aulas. Gozar férias será um projecto mais uma vez adiado…
Nascida na Suíça, mas em Portugal desde há 10 anos, Mélanie frequenta o 11.º ano na Secundária Alves Martins, em Viseu. Integra um grupo de cerca de duas dezenas de estudantes que encontraram trabalho num restaurante com porta aberta no recinto. “Estou aqui para ganhar algum e ajudar os meus pais. Como eu, há muitos jovens, sobretudo alunos do ensino superior, que também abdicaram das férias para poderem fazer um pé de meia e tornar menos dolorosa a factura no regresso à escola”, diz a jovem, enquanto prepara as mesas para o almoço.
Delfim Vaz, proprietário do restaurante a que empresta o seu nome, elogia a atitude de muitos dos rapazes e raparigas que o procuram a pedir trabalho em tempo de feira. “Todos os anos vêm até nós dezenas de jovens dispostos a arregaçar as mangas e a trabalhar para ajudar a família a suportar as despesas com os estudos, sejam eles secundários ou superiores. São um exemplo!”, testemunha o empresário.
A opinião é partilhada por José Moreira, director executivo da Expovis, que aplaude a capacidade de entrega ao trabalho de tanta juventude. E só lamenta não ser possível admitir todos quantos batem à porta da organização a pedir trabalho.
“A Feira de S. Mateus é uma grande oportunidade para proporcionar aos jovens o primeiro emprego. Tem sido assim ao longo dos anos. Em 2013, a Expovis contratou 50 pessoas para os diversos setores: bilheteiros, porteiros, fiscais, hospedeiros e pessoal de apoio. As empresas presentes contratam muitos jovens para trabalharem na Feira. Não me engano muito se falar de umas centenas de jovens, talvez mais de 300, que encontram na Feira a oportunidade de uma primeira ocupação. Na restauração, farturas, pavilhão, diversões, encontramos muitos jovens a trabalhar”, relata.
Apesar das três centenas de jovens contratados pela Feira de S. Mateus – que se juntam a um universo de quase duas mil pessoas a trabalharem durante 45 dias no certame -, o seu impacto nas estatísticas do desemprego na região é quase nulo. Uma fonte do Centro de Emprego de Viseu admite que há de facto uma redução, “mas, infelizmente, não é tão significativa quanto desejaríamos”, remata.
Quanto ao perfil dos trabalhadores sazonais, José Moreira traça-o com conhecimento de causa. “Trata-se de jovens, sobretudo estudantes do ensino superior, que aproveitam as férias de verão e a feira para amealhar algum dinheiro. Há também alguns desempregados que vêem na feira um tempo para reforçar as suas economias”.
O fenómeno que envolve a contratação sazonal de trabalhadores para a Feira de S. Mateus (sobretudo estudantes e desempregados) é para José Moreira uma espécie de “case study” a vários níveis. Um trabalho que, se um dia vier a ser feito, permitirá aquilatar o seu real impacto social e económico sobre a região de Viseu.
“A Feira de S. Mateus é, seguramente, o evento que mais dinheiro traz para Viseu. Com este evento lucram os hotéis, restaurantes, pensões, o comércio e até os pequenos agricultores que escoam os seus produtos sobretudo para a área da restauração. Penso que a análise do real impacto da Feira na economia local é um trabalho a fazer por uma instituição de ensino superior. Estou certo de que as conclusões deste estudo levarão as pessoas a reconhecer a importância que este evento realmente tem”.
“Servindo-me das palavras do viajante alemão, H. F. Link, por meados do séc. XVIII, Viseu já não morre “assim que a feira acaba”. Mas ninguém tem dúvidas que a Feira de S. Mateus é o maior acontecimento social, económico e cultural da cidade, da região e um dos maiores do país. Mesmo que alguns, felizmente poucos, insistam em apoucá-la, desculpem-me o registo, por “palavras, actos e omissões”, cita José Moreira, director da Expovis.
Na edição 621 da Feira de S. Mateus estão presentes cerca de 300 expositores. Destes, cerca de 50% são empresários da região de Viseu. A decorrer desde 9 de Agosto para se prolongar até 22 de Setembro, as previsões apontam para 150 mil entradas pagas. “Oxalá tenhamos condições favoráveis que nos permitam alcançar tal desiderato”, espera José Moreira.