Antigo Grémio da Lavoura de Viseu não resistiu à crise e à concorrência

Abril 10, 2014 | Economia

Portas fechadas. É assim que se encontra, desde Fevereiro, a Copavis – Cooperativa Agrícola de Viseu, um dos últimos redutos de apoio à agricultura na região. Herdeira do ex-Grémio da Lavoura do Distrito de Viseu, a organização, oficialmente encerrada para balanço, aguarda apenas a marcação de uma Assembleia Geral para a deliberação derradeira: a extinção. “Ou também, quem sabe, para equacionar o prosseguimento da actividade, em moldes mais competitivos”, defende em contraciclo um dos actuais dirigentes.

Associados da Copavis acusam a “crise e a concorrência” pela situação a que a cooperativa chegou. “Ao ponto de, nos últimos anos, não terem aparecido agricultores interessados em candidatar-se aos órgãos sociais”. Uma situação – alegam -, que implicou a constituição de uma Comissão Administrativa que, “com sacrifício”, tem assegurado a manutenção da organização, atira um dirigente.

Às instalações da Copavis, na Rua Alexandre Herculano, continuam a acorrer agricultores de vários pontos do distrito de Viseu. Cada vez menos, é certo. “Até Fevereiro, quando as portas ainda estavam abertas, ainda se via muita gente por aí. Agora são cada vez menos. Olham pelas vidraças. Como vêem tudo ao abandono, acabam por desistir”, diz um vizinho da cooperativa.

Razões para o fecho?! Um morador da rua Alexandre Herculano, outro vizinho da Copavis, graceja: “Avariou-se o computador. E, como tinham de contar as sementes à mão, uma a uma, desistiram”. Mais séria, a mesma testemunha, lamenta o que considera ser o “fim” de uma organização da maior utilidade para a região. “A minha mulher chegou a esperar horas numa fila, que chegava ao Hospital Velho, para conseguir comprar batata de semente. Depois começaram a aparecer lojas com maior diversidade de produtos, alguns mais baratos, e isto foi ao ar”, afirma.

Um dirigente da Copavis reconhece que os últimos anos não foram fáceis. “A crise no sector agrícola, marcado pelo abandono da actividade, provocou alterações profundas. É uma pena. A Copavis conseguiu sempre, até ao fim, e apesar da concorrência, vender os seus produtos a preços mais baixos. E, acima de tudo, manter um elo de ligação muito forte com os seus associados”.

O Grémio da Lavoura do Distrito de Viseu, que vigorou durante o Estado Novo, foi criado, como os demais, pela Lei nº 1957, de 20 de Maio de 1937, sucessora do Mutualismo Agrícola. O 25 de Abril de 74 ditou a extinção destas organizações e o aparecimento de cooperativas vocacionadas para o apoio total ao sector. A Copavis foi uma delas. O seu estatuto de organização agrícola sem fins lucrativos foi de tal forma prestigiado, que chegou a ter mais de 10 mil associados. Os benefícios eram muitos e visíveis.

“Para além de fornecer produtos, desde sementes a árvores, plantas e pequenas máquinas e alfaias agrícolas, tinha ao seu serviço técnicos que percorriam as explorações em trabalho de aconselhamento agrícola e prestação de vários serviços aos agricultores”, diz um associado.

Nos últimos tempos, a situação mudou para pior, acrescenta outra fonte. “Os produtos escassearam e os cerca de 10 funcionários, que entretanto se foram indo embora, limitavam-se a escoar stocks. Era o fim anunciado”, conclui.

Através das vidraças da velha Copavis, um agricultor espreita. “Vinha atrás da batata para a sementeira, mas não vejo nada. Só prateleiras vazias”, desabafa António Mendes. E deixa uma crítica. “Andam para aí a apregoar que o cooperativismo e a agriculturasão factores decisivos para o desenvolvimento sustentável do país e, logo a seguir, deixam morrer uma organização com mais de meio século e uma excelente folha de serviço”.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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