Município de Viseu não aceita minas de lítio

Abril 20, 2022 | Sociedade

Realizou-se em Viseu, no Solar dos Peixotos (Assembleia Municipal), um Encontro/Debate promovido pela AZU – Associação Ambiente em Zonas Uraníferas, com uma mesa constituída pelo vereador do Ambiente no executivo viseense, Pedro Ribeiro; pelo presidente da Junta deFreguesia de Viseu, Diamantino Santos; por Renata Almeida, do Movimento Contra Mineração Beira Serra; pelo cónego Arménio, em representação do Bispo de Viseu; e em representação da AZU, João Dinis e o seu presidente, António Minhoto que moderou o debate.

Usaram ainda da palavra, para além de pessoas do público presente, alguns convidados, como o presidente da Assembleia Municipal de Viseu, José Manuel Mota Faria, o coordenador do Núcleo de Viseu da associação Olho Vivo, Carlos Vieira; o Administrador das Termas de Alcafache, Jorge Leal; e representantes de partidos como Manuela Antunes do BE, Miguel Martins do PEV e António Vilarigues do PCP.

António Minhoto lamentou a ausência de outros autarcas convidados, mas destacou o facto de todos os autarcas ouvidos pela AZU estarem contra esta mineração. E destacou: “Mangualde, fustigada pelas minas de urânio, ainda tem uma das sete minas por recuperar ambientalmente”. A mineração a céu aberto, disse, “irá rebentar com o que ficou dos fogos florestais”.

O vereador Pedro Ribeiro foi peremptório na recusa de minas de lítio a céu aberto: “A área de prospecção em Viseu foi reduzida para uma área pequena [Vila Corça], mas o ambiente não tem fronteiras e há áreas vizinhas com eco-sistemas ameaçados”; ainda por cima, próxima de linhas de água (barragem de Fagilde), com necessidade de “enormes quantidades de água numa zona de seca extrema”, torna-se imprudente e irresponsável admitir a exploração em bacias hidrográficas cuja água vai para a captação para abastecer populações”. São ainda “uma ameaça para a biodiversidade, devido à abertura de estradas e à desflorestação” para além dos perigos para a saúde pública com as “poeira libertadas pela moagem da rocha, lamas e areias finas”.

Renata Almeida enfatizou a transitoriedade do lítio, com outras soluções a serem investigadas, como as baterias de sódio e de hidrogénio. Chamou a atenção para os impactos das minas que podem atingir 850 metros de diâmetro e 450 mts de profundidade, na “destruição dos solos e da paisagem (a matéria-prima do turismo) e do património, em troca de muitos poucos empregos especializados e em detrimento dos produtos endógenos, queijo, vinho, maçãs, lã e madeiras”.

João Dinis deu o exemplo da Serra d’Arga, Minho, onde a unidade das populações, dos autarcas e dos ambientalistas contra estas minas a céu aberto, em modo de produção superintensivo e em grande escala que só servem os interesses das multinacionais e não os das regiões, conseguiu que fossem retirados quase 50% das áreas englobadas em 8 perímetros aprovados pelo governo.

Jorge Leal falou não apenas como empresário afectado pelos previsiveis impactos na barragem de Fagilde, mas também “como técnico que tem acompanhado a evolução das baterias”, alertando para o facto de a aposta no lítio levar ao desinvestimento em alternativas tecnológicas cuja evolução soçobrará.

O cónego Arménio, transmitiu a mensagem do bispo de Viseu no sentido de que “a economia não pode sobrepôr-se à vida com a qualidade a que todos têm direito”.

Mota Faria, presidente da AM de Viseu, começou por agradecer a António Minhoto a sua “voz incómoda, mas reivindicativa dos interesses da região”. Reconheceu que as contrapartidas para a exploração mineira não são transparentes nem dão garantias de defesa do interesse público”, até porque “temos legislação avançada, mas problemas de monitorização, fiscalização e acompanhamento com responsabilidades diluídas”.

O nosso activista Carlos Vieira disse que o problema não era a mineração em si (que existe desde a idade da pedra e dos metais) mas da exploração intensiva, tal como aconteceu com os eucaliptos (o “petróleo verde” com que incendiámos o país) e com o olival intensivo no Alentejo que destrói a paisagem e o modo de vida das populações. E apontou a necessidade de um consumo mais sustentável, para melhor saúde e para não atingirmos o “ponto de não retorno” da crise climática.

Miguel Martins (PEV) alertou para a água necessária para a mineração do lítio: 5.200 m3 diários, igual ao consumo diário de cidades como Viana do Castelo, Maia, Loures ou Portimão. E. que os carros eléctricos não são solução, mas sim os transportes públicos

Manuela Antunes (BE) felicitou a posição da CMV e defendeu a aposta nos transportes públicos e numa economia circular, mais durabilidade dos eletrodomésticos e um outro modo de vida sem o consumo excessivo que levou à crise climática, ambiental e social.

António Vilarigues (PCP) confessou que ficou “em estado de choque ao ver na TV uma máquina de extracção de lítio com 200m de comprimento por 100 metros de largura” e os impactos que tal mineração tinham para a vida das populações serranas.

Seguiu-se um animado debate com elementos do público presente.

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