Descoberto em Viseu o único castro da Idade do Ferro conhecido no país

Agosto 31, 2019 | Cultura

A confirmar-se a importância atribuída à descoberta no Largo da Misericórdia, em pleno centro histórico de Viseu, do único castro da Idade do Ferro até agora encontrado no país, a Câmara Municipal equaciona a musealização de um achado que vem demonstrar, segundo o arqueólogo Pedro Sobral, “o movimento que existia em Viseu há 2.500 anos de história”. Para além do castro, a intervenção urbanística de jardinagem na zona verde do Largo, permitiu ainda pôr a descoberto uma moeda com cerca de 500 anos e um fragmento de cerâmica que, ao que tudo indica, remonta também à Idade do Ferro.

“Se estes achados arqueológicos, face à sua localização, revelarem ter a importância que têm, vamos recomendar à Sociedade de Reabilitação Urbana (SRU) para que em conjunto com os arqueólogos, a Direção-geral do Património Cultural e a Direção Regional da Cultura do Centro, equacione a abertura de uma janela de observação dos vestígios agora encontrados em pleno centro histórico de Viseu”, anunciou aos jornalistas o presidente da Autarquia, Almeida Henriques, durante uma visita que fez ao local das escavações.

Acompanhado pelo vereador da Cultura e do Património, Jorge Sobrado e pelo arqueólogo Pedro Sobral, o autarca reforçou a importância de uma descoberta que, para já, “deve ser usufruída por todos antes de procedermos à musealização dos vestígios”.

Na mesma visita, Jorge Sobrado confirmou que já foi iniciada a articulação institucional com a Direção Regional de Cultura do Centro, “não apenas para que se alarguem as janelas de observação sobre estes importantes achados, mas também para que permitam a sua futura musealização in situ”.

Sem se mostrar “surpreendido” com uma descoberta, “já esperada”, de pedras que “deverão datar da ocupação romana e mais tarde reutilizadas durante o século XVI”, tendo em conta escavações realizadas no mesmo espaço nos anos 40, Pedro Sobral exterioriza o significado e a importância do achado. “Temos aqui um dos vestígios mais preservados da Idade do Ferro. Uma estrutura habitacional, típica dos castros lusitanos que conhecemos do noroeste peninsular”, assegura o arqueólogo.

Pedro Sobral afirma não conhecer, em Portugal, uma casa da Idade do Ferro musealizada no centro de uma qualquer cidade”, garante o arqueólogo. Que também não tem dúvidas quanto a um achado que configura ser uma habitação da Idade do Ferro. “As plantas circulares ou são casas ou fornos. Mas se fossem fornos apareceriam telhas e não é esse o caso”, afirma, considerando “muito importante que esteja a ser ponderada a musealização”.

Já em relação ao fragmento de cerâmica encontrado, o arqueólogo admite que existem na cidade outros achados semelhantes. Mas este, afirma, “é esteticamente excepcional”. “É uma cerâmica típica de uma das fases da Idade do Ferro e deve ser de há 2.300 anos, século III a II antes de Cristo”. Segundo o arqueólogo, desde 2009, aquando das obras do funicular, que “não surgiu mais nada de tão relevante” no concelho de Viseu.

A intervenção urbanística de jardinagem que está a ser operada no Largo da Misericórdia, a escassos metros da Sé Catedral e do Restaurante Muralha da Sé, é apenas apenas mais um dos espaços verdes que a Câmara Municipal está requalificar no centro histórico de Viseu, recorrendo para o efeito a “imagens históricas da zona mais antiga da cidade”.

Para já, a requalificação do espaço, em rampa, vai agora ter de esperar, até para permitir que esta seja mais uma atracção em Viseu em tempo de Feira de São Mateus e, ao mesmo tempo, poder receber visitas pedagógicas de alunos e visitantes em geral.

 

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