Não há memória de um feito assim no futebol português. E foi protagonizado pelo Tondela que passou, nas últimas sete jornadas, de equipa condenada a equipa sensação. O premio mais que justo para todo um grupo de trabalho que nunca deitou a toalha ao chão, e acalentou sempre uma fé inabalável num milagre que acabou mesmo por acontecer: a permanência no primeiro escalão do futebol português, num dia (14 de Maio) que ficará para a história da cidade, da região e do país. Um desfecho, logo na época de estreia, considerado impossível por muitos, mas no qual atletas, equipa técnica, adeptos e dirigentes, nunca deixaram de acreditar.
Depois de ter perdido apenas um dos últimos oito jogos, somando 17 pontos em cinco vitórias (uma delas no Dragão) e dois empates, contra apenas 13 conquistados nas 26 jornadas anteriores, o Tondela de Petit saiu, finalmente, da zona de despromoção na jornada derradeira do campeonato, depois de por lá ter andado ao longo de 24. Venceu a Académica (2-0) no Estádio João Cardoso, e beneficiou de um golo de Helder Postiga na vitória (1-2) do Rio Ave no campo do União da Madeira, a equipa que acabou por acompanhar a Académica na descida à II Liga.
“Foram meses de muito trabalho, sempre a acreditar que era possível, com jogadores formidáveis, que também acreditaram sempre”, justificava, no final da partida com a Académica, o eufórico treinador Petit que, logo nessa madrugada, deitou pés ao caminho para ir a Fátima agradecer o milagre. Ele que foi o terceiro treinador da época, e o que mais pontuou, depois das passagens de Vítor Paneira e Rui Bento. E que prometeu lutar pela permanência do Tondela “até à última gota de sangue”.
“Há dez jornadas atrás, até acontecer a vitória no Dragão, ninguém acreditava em nós, e só o espírito de união entre o grupo tornou possível a permanência”, lembrava o guarda-redes Cláudio Ramos, com o presidente Gilberto Coimbra a reconhecer que o resultado frente ao F.C. do Porto teve o condão de “rejuvenescer e catapultar equipa para a recuperação”. Para o jogador Pica, que marcou o primeiro golo frente à Académica, esta foi a melhor recompensa para “uma equipa que trabalhou sempre unida”.
Em Tondela, o longo pesadelo acabou em felicidade. Resta agora preparar a próxima época e, com ela, as duras batalhas que urge vencer para que a região continue a estar representada no primeiro escalão do futebol nacional. Gilberto Coimbra diz que “pouco vai mudar“, mas garante também que a experiência ganha na temporada que agora termina “vai dar-nos outra lucidez”.
DO ACADÉMICO…. ERA O MÍNIMO QUE SE PODERIA ESPERAR
A entrar para a última jornada da II Liga na condição de aflito, depois de ter partido com aspirações bem diferentes para o campeonato, chegando mesmo a apontar a subida de Viseu entre os objectivos, o Académico de Viseu lá conseguiu safar-se e evitar a descida frente ao Sporting da Covilhã, num jogo que deixou os nervos em franja aos muitos academistas que se deslocaram ao Fontelo. Que só respiraram de alívio quando, já na segunda parte, Zé Pedro, o ponta de lança emprestado pelo Rio Ave, marcou o segundo dos seus dois golos aos 84 minutos.
Numa partida em que, verdade se diga também, o Covilhã pouco incomodou o guardião Ricardo Janota, o Académico de Viseu acabou na segunda parte por fazer “um grande jogo e vencer com toda a justiça” como reconheceu, no final, o técnico Jorge Casquilha. E, dessa forma, garantir a permanência. “Era o mínimo que se poderia esperar da equipa”, observava um adepto que saiu do Fontelo bem mais tranquilo do que entrou.
Depois do «cair do pano» num campeonato que acabou por ter um desfecho feliz para os academistas, que recorreram também a três treinadores para «levar a cruz ao Calvário» (Ricardo Chéu, Bruno Ribeiro e, por fim Jorge Casquilha), começa agora a planificação para a próxima época. Da qual deverão ser retiradas as devidas lições e ilacções de uma temporada pouco tranquila e muito sobressaltada. Uma avaliação realista e pragmática que deverá ser o ponto de partida para os objectivos a definir.