O Diário de Notícias do passado dia 7 denunciava que 11 das 100 melhores escolas do 1º ciclo, segundo os resultados dos exames de Português e Matemática do 4º ano, estão na lista de 311 condenadas a encerrar pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC). Quatro delas são do distrito de Viseu: EB de S. João da Serra (Oliveira de Frades), EB de S. Martinho (Moimenta da Beira), EB da Aguieira (Nelas) e EB de Orgens (Viseu).
Estes dados retiram validade ao argumento usado pelo MEC (desde os governos do PS, com a ministra Maria de Lurdes Rodrigues a chamar ”escolas do insucesso” às que tinham poucos alunos), para justificar o encerramento de escolas (primeiro com menos de 5, depois menos de 10 e agora menos de 21). De resto, como lembrava o artigo do DN, citando Paulo Guinote, autor do blogue “A Educação do Meu Umbigo”, “a nível internacional, se há estudos que apontam possíveis problemas pelo facto de os alunos terem poucos colegas, e até estarem sujeitos à formação de turmas mistas agregando vários anos lectivos, também não faltam estudos demonstrando as vantagens de aprender em turmas pequenas, e mesmo em Portugal as poucas evidências que existem até são favoráveis ao ensino em escala mais reduzida.”
Também o exemplo de sucesso educativo da Escola (Básica) da Ponte, em Vila de Aves e São Tomé de Negrelos, no distrito do Porto, reconhecida a nível internacional pelo seu projecto inovador ( inserido no Movimento da Escola Moderna, baseado no método pedagógico de Célestin Freinet, e influenciado pelo brasileiro Paulo Freire), prova que ter alunos de vários níveis de ensino num mesmo espaço (ali não há sequer turmas e todos os professores e alunos colaboram entre si, sem divisões de salas de aulas e de anos escolares) até pode ter positivo.
Não será por acaso que ficou sem resposta a pergunta que o deputado do Bloco de Esquerda, Luís Fazenda fez ao ministro da Educação, na Assembleia da República, sobre os dados concretos acerca do sucesso escolar dos alunos transferidos para novas escolas, em anos anteriores.
ESCOLA BÁSICA DA AGUIEIRA
Outra das cem melhores escolas do 1º ciclo a nível nacional é a Escola Básica da Aguieira, concelho de Nelas, que é considerada pela União das Freguesias de Carvalhal Redondo e Aguieira “a principal instituição que permite fixar famílias e jovens”. Na passada terça-feira, pais alunos e autarcas (o encerramento desta escola, que tem 24 alunos inscritos, tem a oposição da Junta de Freguesia, da Câmara Municipal de Nelas e da Direcção do Agrupamento de Escolas de Canas de Senhorim), convocaram uma manifestação de protesto que acabou por ter a participação dos pais e alunos das escolas de Vale de Madeiros, Lapa do Lobo e Póvoa de Santo António, também condenadas pelo MEC ao encerramento.
ESCOLAS DO CARAMULO
As escolas EB de Vilar de Besteiros e EB de Tourigo, no Caramulo, têm, respectivamente, 39 e 31 alunos, o que não impediu o MEC de as condenar a fechar, apesar da oposição da Câmara Municipal de Tondela.
No sopé da Montanha fica a escola de Caparrosa, com 17 alunos, mas a uma grande distância da escola de “acolhimento”.
Corre pelas encostas do Caramulo um vento frio que sopra aos ouvidos das suas gentes esquecidas pelo poder central que o Jardim de Infância público corre o risco de ser encerrado em detrimento do de uma instituição privada que, ainda por cima, parece que não prima pela qualidade.
MOÇÕES APROVADAS POR UNANIMIDADE NA AM DE VISEU
Na sessão da Assembleia Municipal de Viseu, do passado dia 30 de Junho, o presidente da junta de Bodiosa apresentou uma moção contra o encerramento da Escola de Travanca. Também o Bloco de Esquerda apresentou uma moção contra o encerramento desta “e de qualquer outra escola do concelho sem a concordância das respectivas comunidades educativas, das associações de pais e encarregados de educação, das juntas de freguesia e da CM de Viseu” e expressando ainda a “solidariedade da AM de Viseu para com as associações de pais e os autarcas do nosso distrito que se queixam de não ter sido ouvidos nesta decisão de encerrar escolas do 1º ciclo”.
Depois de uma reacção “pavloviana” da bancada do PSD contra tudo o que vem da oposição, que me levou a questionar se havia um PSD a duas velocidades, o do presidente que ousou afrontar o governo assumindo os custos com a abertura da Escola de Travanca, e que fala de “Viseu cidade região”, e os deputados, formatados pelo sectarismo de Ruas, que negam solidariedade aos autarcas do distrito, a moção, depois de uns cortes nos “considerandos”, lá acabaria por ser aprovada, também por unanimidade.
Carlos Vieira e Castro