Vivemos dias extraordinários. A par das temperaturas de fritar miolos, tivemos uma crise de governo que parece ter saído de uma história de Quino, o autor de banda desenhada criador da Mafalda, a menina contestatária. Portas faz-me lembrar o Manelinho, aquele personagem filho de um merceeiro que ajuda o pai na loja e por isso, desenvolveu de forma algo precoce o sentido oportunista do negócio. Portas comportou-se como um garoto tão mentiroso quanto manhoso, que recorre a caprichos e a birras para obter o que quer.
A sua birra começou por uma demissão “irrevogável” do governo por Passos ter nomeado ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, que Gaspar já tinha amestrado para lhe suceder ensinando-a a fazer salamaleques aos ministros das Finanças da Alemanha e da França. Passos pode não parecer muito inteligente, mas aprendeu a conhecer o seu irrevogável aliado e negociou a revogação da irrevogável demissão, conseguindo a permanência da tóxica ministra “swap”, trocando o Álvaro da Economia, por Pires de Lima, do CDS, e dando a Paulo o lugar de vice-primeiro ministro, a coordenação da política económica, tutelando Maria Luís, e as negociações com a Troika. Paulo ficou tão excitado com os brinquedos novos que nem se apercebeu que o mano Pedro lhe passou uma rasteira. Mostrou a todos os meninos e meninas que Paulo era um mentiroso e um falso sem escrúpulos.
O papá Gaspar tinha acabado de abandonar a família. Deixou uma carta a explicar que se sentiu um falhado por ter destruído a casa toda; que foi um mau marido por ter traído a mãe Pátria com a Troika; que foi uma mau pai, porque prometeu aos filhos umas férias de sonho e só lhes deu pesadelos; disse aos amigos que ia ao mercado e regressou mais falido do que antes. Saiu de cena, mas não pediu desculpa a ninguém. A culpa foi da chuva…
Contavam todos com o padrinho Aníbal, o velho patriarca do clã, que até parecia não levar a mal dar posse a uma ministra sem ter sido informado da demissão de outro ministro.
2ª PARTE : AGARREM O PSIQUIATRA!
Pedro e Paulo fizeram lembrar aquela pintura de Goya, “duelo com mocas”, em que dois homens enterrados até aos joelhos, para que nenhum deles possa fugir, se batem até á morte. Cavaco para acabar com este jogo tétrico, pede a Seguro que se meta no meio. Há quem goste da ideia.
Quando Pedro e Paulo já faziam novas juras de amor (embora com Paulo a aumentar os juros), Cavaco, cansado da música minimal repetitiva com que pregava a estabilidade aos peixinhos, veio dizer que não acredita mais em juras de judas e que só autoriza que os dois se deitem nas mesma cama com um Seguro no meio para evitar novas cenas de violência doméstica. Seguro para mostrar que é um homem sério, já disse que só ia para a cama depois do casamento. Mas também nunca disse com quem é que prefere ir para a cama ou até se aceita o recomendado “ménage à trois”. Quem quer casar com a carochinha?…
O que o presidente fez foi mandar Pedro e Paulo meter o governo no carro, no banco de trás, no meio dos dois, amparando-o a fingir que está vivo, como faziam os familiares dos mortos que tinham de atravessar outros concelhos, para não pagarem taxas de circulação de cadáveres. Cavaco propõe-se ir a conduzir, com Seguro no “lugar do morto”. Só que se o morto já cheira mal, imaginem daqui a um ano, em Junho de 2014. Prolongar o desastre só pode aumentar a tragédia.
Já que este jogo está viciado, resta-nos invadir o campo e começar de novo. Mostrar que há mais gente em jogo. Que são precisos novos jogadores e novas regras. Mais democráticas e mais justas. Eleições antecipadas, JÁ! O Povo é quem mais ordena!
Carlos Vieira e Castro