Uma semana depois de Paulo Portas, com aquele seu ar de “sentido de Estado”, de quem não mete a cabeça na areia, mas se esconde num submarino para espreitar pelo periscópio o Estado a submergir cada vez mais para o fundo, ter anunciado solenemente ao país que há uma linha vermelha, uma fronteira que não poderia deixar passar: uma nova taxa sobre as reformas, o Conselho de Ministros, onde têm assento três ministros do CDS/PP, incluindo o próprio Paulo Portas , aprova as condições da sétima avaliação da Troika, que incluem mais um enorme corte de 10% sobre as pensões de reforma, com efeitos retroactivos. O CDS dá uma desculpa esfarrapada: só aceitou esta medida a “título excepcional” na condição de ela poder ser substituída por outra de montante semelhante: 436 milhões de euros.
A linha vermelha de Paulo Portas ficou feita num oito, depois de lhe ter dado um nó cego, tão cego como a sua própria coerência. A fronteira de Paulo Portas é uma linha de geometria variável: avança e recua, conforme as suas próprias conveniências. Paulo Portas não respeita fronteiras, como qualquer bom contrabandista.
Mas há quem exija o cumprimento da lei, como Maria do Rosário Gama, dirigente da APRE! – Associação de Aposentados, Pensionistas e Reformados que já garantiu que irá lutar contra os novos cortes nas pensões recorrendo a todas as instâncias judiciais e à mobilização dos pensionistas e reformados para o combate de rua. Hoje mesmo, a APRe! realiza em Viseu uma sessão pública que pretende organizar os pensionistas e reformados de Viseu contra o que considera “o descalabro na Função Pública” num “país de loucura onde tudo é permitido”, incluindo transformar os reformados no “alvo preferencial do governo”.
Entretanto, vários constitucionalistas, incluindo alguns de direita, como Marcelo Rebelo de Sousa, já alertaram para a inconstitucionalidade destes cortes nas reformas.
Na sessão de abertura da Conferência “Vencer a crise com o Estado Social” promovida pelo Congresso Democrático das Alternativas, Carvalho da Silva acusou Paulo Portas de estar apenas a “tentar manter-se no poder para jogar influências, alimentar compadrios e trocas de interesses”, denunciando as encenações do CDS-PP e criticando algumas figuras do PS por andarem a credibilizar Portas e o CDS como “intérpretes de um verdadeiro programa democrata-cristão”, quando na realidade fazem parte de um governo que se porta como “um governo de ocupação que rouba descaradamente ao comum dos portugueses para proteger os interesses dos ocupantes”.
Estamos efectivamente sob ocupação estrangeira, como prova o relatório interno do governo de Merkel, divulgado pela revista alemã “Der Spiegel”, onde se defende mais austeridade e sacrifícios para os países do Sul da Europa, continuando a reduzir os direitos laborais e a baixar salários.
Há cerca de um mês atrás, os ministros da Economia e do Trabalho da Bélgica apresentaram uma queixa contra a Alemanha na Comissão Europeia, por “dumping social”. Os matadouros alemães têm vindo a contratar trabalhadores romenos e búlgaros (cidadãos comunitários) a 3 euros à hora (quatro a cinco vezes menos do que recebe um trabalhador alemão), o que provocou despedimentos em massa nos matadouros belgas que passaram a enviar as reses para serem esquartejadas na Alemanha. Parece haver na Alemanha uma certa nostalgia do trabalho forçado dos prisioneiros dos nazis (vejam o filme “A Lista de Schindler”),que foi aproveitado por muitas fábricas alemãs, incluindo uma grande parte das multinacionais germânicas vejam o filme “A Lista de Schindler”). vejam o filme “A Lista de Schindler”). mais conhecidas.
Este ano, a crise económica fez aumentou o número de peregrinos que foram a pé a Fátima. Mas para quem não acredita em milagres, ao contrário de Cavaco Silva que pensa no fim da sétima avaliação da Troika “como uma inspiração – como já a minha mulher disse várias vezes – da nossa Senhora de Fátima, do 13 de Maio”, a melhor maneira de impedir que esta avaliação da Troika provoque uma segunda vaga de austeridade, de consequências ainda mais graves, com milhares de despedimentos na Função Pública, aumentando ainda mais de forma brutal o número de portugueses desempregados e inactivos que já vai em milhão e meio, será participar na concentração convocada pela CGTP, pela demissão do Governo, no próximo 25 de Maio, junto ao Palácio de Belém, e no dia 1 de Junho na Manifestação Internacional Contra a Austeridade, sob o lema “Povos Unidos Contra a Troika” que já tem a adesão de 11 cidades portugueses, incluindo Viseu.
Para não sermos pisados como minhocas.
Carlos Vieira e Castro