Ainda me recordo da imundice que era o “Rio” Pavia, há uns anos atrás.
As melgas que me invadiam a casa, e o cheiro pestilento no verão, não me deixaram esquecer aquele tormento que só foi ultrapassado, quando a Câmara Municipal, em boa hora, decidiu, com, ou sem apoios do poder central, isso não interessa, implementar o Programa Polis.
Entre as várias obras ali realizadas, quero hoje falar do rio propriamente dito.
O leito foi limpo e desobstruído, e as margens tratadas Ficou bonito!
Em seguida, represou-se a água nos antigos moinhos da Balsa, e criou-se um curso de água permanente, que deu ao Pavia um ar agradável e simpático.
A Câmara Municipal, a par de algumas escolas locais, encarregou-se de povoar o rio de várias espécies de peixes, que viriam mais tarde a ser uma atracção para os pescadores desportivos.
Foi agradável, enquanto durou, ver dezenas de pessoas a pescar ao longo das suas margens em zonas previamente escolhidos pela própria Câmara Municipal. Inclusive, até teve ali efeito um concurso de pesca desportiva.
A prática de canoagem também ali exercida, potenciou a vida do rio. Porém, de repente, entre a ponte de pau e os moinhos da Balsa, tudo se alterou.
Alguém mandou abrir bruscamente, e ao mais baixo nível, a comporta que represava a água e como não podia deixar de ser, o forte caudal que isso provocou, arrastou irremediavelmente os peixes para a parte baixa do Pavia que está por reclassificar, e arrastou-os por ali fora.
De uma vez por todas, deixou de haver peixes naquela zona, e por consequência desapareceram os pescadores.
Na altura, há cerca de dois anos, confrontei o Vice-Presidente Dr. Américo Nunes com a situação, respondendo-me, que não havia problemas com os peixes, porque eles voltariam a subir, devido a estar instalado um sistema próprio para esse fim. Engoli em seco e não ripostei. Falava quem sabia. Desconfiado fui ver. O Dr. Américo Nunes devia estar a gozar com a minha cara. Alguém lhe impingira também a ele aquela patranha. Afinal os peixes do Pavia não sabem nadar…
Hoje é aquela tristeza que se vê; o rio – naquela zona – leva apenas um palmo de altura de água, pois, incompreensivelmente, continuam a baixar a comporta ao nível máximo. Se agora o rio não leva água, quando é que a levará?
Não sou técnico como o sr. Eng. Tomás, mas tenho olhos na cara para também ver da necessidade de se ir regulando o caudal, de acordo com as cheias, contudo, nunca por nunca, ao nível zero. Se me disser que a montante da Ponte de Pau pode haver prolemas, percebo, porque quem planeou ou executou a obra, não teve o bom senso de altear um pouco mais as margens circundantes. Asneira da grossa.
Interrogo-me sobre a necessidade dessa prática, e não encontro uma justificação lógica, até porque o nível alcançado pela água, neste troço em questão, como se pode constatar pelas fotografias publicadas, está muito longe de galgar as margens, conforme atestam as marcas máximas, anteriormente ali registadas. Como única resposta, vejo apenas a necessidade de diminuir as infiltrações de água que pode afetar as fundações do Forum, dado que foi construído numa zona alagadiça, e donde são extraídos diariamente centenas ou milhares de metros cúbicos de água.
Se assim não for, só o excesso de zelo, a incúria ou a incompetência, o justificarão.
Por José Reis